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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Antes de dar corda no seu relógio

 

Dr. Alessandro Loiola

Alessandro Loiola é médico, escritor e palestrante.

Autor de, entre outros livros, “Para Além da Juventude – Guia para uma Maturidade Saudável”, da editora Leitura. Sua coluna comenta, em linguagem simples e com muito humor, práticas e avanços da medicina para todas as idades


Muito se fala sobre o livre arbítrio, sobre a capacidade de escolher com liberdade e conscientemente. O livre arbítrio é uma das conquistas mais valorizadas pela nossa civilização. Por exemplo: em época de férias, é você, e você apenas, quem escolhe a hora de acordar, conversar, comer e dormir, certo?
Errado. Para dar corda ao assunto, deixe-me explicar por quê.
Imagine seu corpo como um grande relógio. Melhor ainda, como um aglomerado de mais de cem relógios sincronizados, determinando a hora de sentir sono, fome, ir ao banheiro etc. Esses relógios internos existem de verdade e determinam um ciclo chamado Ritmo Circadiano (desde já: circadiano significa “ciclo de um dia”). A ciência que os estuda possui até mesmo um nome: Cronobiologia.
O Ritmo Circadiano mantém seu corpo alerta durante as horas de claridade e ajuda a relaxar à noite. É capaz até mesmo de lhe acordar na hora certa pela manhã quando você se esquece de ajustar o alarme na cabeceira. Infelizmente, esse mesmo relógio lhe acorda nos dias em que você poderia dormir até um pouco mais tarde…
Nos mamíferos – e você quase certamente é um deles –, o relógio biológico localiza-se numa porção do cérebro chamada Hipotálamo. Mas não perca tempo tentando encontrar o seu. Apenas certifique-se de que ele continue funcionando por mais algumas décadas. Em alguns insetos, o relógio biológico está na retina dos olhos. Nos pássaros, ele pode ser encontrado no hipotálamo ou na glândula pineal.
Hormônios
Em todos os casos, esses relógios estão vinculados a receptores sensíveis que sincronizam o relógio interno com a luz do sol. Funciona da seguinte maneira: ao atingir receptores na retina, a luz solar desencadeia estímulos que viajam por fibras nervosas até o cérebro, dando corda no seu mecanismo de horários.
Essas fibras também transmitem sinais que afetam níveis hormonais relacionados ao ajuste do relógio interno. Por exemplo: os níveis de Cortisol (um hormônio relacionado ao metabolismo e ao sistema de imunológico) são maiores entre 6 e 8 da manhã, diminuindo gradualmente durante o dia. Ao mudar o padrão de sono, os níveis de Cortisol também se alteram.
O hormônio do crescimento (GH), por sua vez, aumenta com o sono em crianças – os níveis máximos são atingidos nas primeiras duas horas de sono. Se a criança apresenta distúrbios do sono, a produção de GH cai, prejudicando seu desenvolvimento.
Os derrames e os ataques cardíacos são mais comuns no período da manhã do que em qualquer outro horário do dia. Muitas pessoas podem pensar que não é seguro, então, exercitar-se pela manhã. Todavia, a culpa não está no exercício, mas nas alterações do Ritmo Circadiano: entre outras coisas, os níveis elevados de Cortisol fazem com que o sangue se coagule mais rapidamente por volta das 8 horas da manhã.
A pressão também se eleva nesse horário, permanecendo assim até o final da tarde, quando começa a cair, atingindo seu ponto mais baixo durante a noite. Ainda, atletas experimentam picos de temperatura, força e flexibilidade no final da tarde – e este é o melhor período do dia para competirem. À tarde, a sensibilidade à dor também é menor.
Atrasado
O relógio interno pode ser regulado por estímulos não-luminosos, como exercícios, drogas, remédios e hormônios. À medida que envelhecemos, o marcapasso cerebral perde células, alterando os ritmos circadianos – e isto, associado ao uso de vários remédios e à falta de atividade física regular, pode explicar o relógio “desregulado” de pessoas mais idosas.
Dormir uma ou duas horas mais tarde além do horário habitual também pode causar problemas. É mais difícil acordar na manhã seguinte e não raramente passamos o dia irritados e com dor de cabeça. Isso pode não ser simplesmente “falta de uma noite bem dormida”, mas uma alteração no padrão do ritmo circadiano. Neste caso, a pessoa está em um ritmo em que o corpo quer descansar das 4 da manhã até às 5 da tarde. E aí, seu dia de praia foi-se.
Manter um horário regular para o sono e as refeições, praticar exercícios durante o dia (e não à noite, quando você aumenta a carga de adrenalina e prejudica o sono) e relaxar por alguns minutos antes de ir para a cama são táticas que ajudam o bom funcionamento do seu relógio biológico.
Agora sim, dê corda à vontade.

A coluna de Dr. Alessandro Loiola é distribuída com exclusividade pela BR Press.

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